Se ainda não viram esta foto irão dar com ela, mais tarde ou mais cedo. Surge em quase todas as listas na web de «exemplos inapropriados de selfies» com putos narcisistas que tiram auto-retratos até em funerais. «Tenham em atenção» – alerta, em estilo muito beatífico, um dos sítios que consultei. «Este post contém imagens que nenhuma câmara fotográfica devia suportar».
Também surge frequentemente em contextos mais humorísticos: uma mensagem no Twitter geralmente acompanhada pela frase «Cheat on me and I'll be at your funeral».
No caso desta foto, o único funeral a que comparecemos é aquele em que a verdade dos factos é enterrada – funerais deste tipo estão sempre a acontecer na grande rede, como sabem. Nas redes sociais, então, são cerimónias fúnebres às carradas.
Esta imagem é uma composição de duas: uma foto genérica retirada do banco de imagens da Getty Images – «Rest in Peace» - e uma verdadeira selfie tirada pela modelo e fotógrafa russa Yulia Mayorova durante uma viagem com o namorado, no verão de 2013: «Pretty young girl tourist in Rome, Italy.»

Imagem invertida, corte & cola, retoques na perspetiva e nasce uma adolescente inconsequente num funeral.
Como Mayorova é bonita, fotogénica e sabe tirar fotografias, costuma disponibilizá-las e vendê-las através do serviço Shutterstock, um banco de imagens com preços mais acessíveis que o da Getty Images. Sempre que alguém adquire a imagem, a única informação que recebe é o país de origem do comprador.
Mayorova sabe o uso que foi dado à selfie: é frequente aparecer em vários locais do mundo porque algumas empresas de publicidade começaram a perceber que associar a marca a uma atividade tão corriqueira como o selfie facilita a identificação com o cliente e é lucrativa. Muitas vezes os amigos reconhecem-na e perguntam-lhe se ela esteve realmente no Camboja, por exemplo, e ela diverte-se em saber como o seu alter-ego, teletransportado pelo Photoshop, tem viajado tanto.
Nem o falso auto-retrato no funeral que associa o seu rosto ao de uma adolescente inconsequente a preocupa muito. O fenómeno do selfie, para ela, «é uma tentativa de perseguir o sentimento de nos sentirmos completamente vivos. Nos dias que correm, usamos o selfie para nos mostrarmos vivos, para nós próprios e o mundo que nos rodeia.»
Quando e como caiu esta imagem na Internet? A 30 de outubro de 2013, num artigo da revista Saloon intitulado «In defense of funeral selfies», análise da cronista Tracy Clark-Flory à nova moda. A composição e origem da foto estava bem identificada pela publicação, como puderam verificar se seguiram o link, mas bastou alguém partilhar a imagem com um contexto falso para que o enorme rebanho de partilhadores da Net a transformasse em facto.