Uma estrela a 1480 anos-luz da Terra — maior, mais quente e luminosa que o nosso Sol — tem sido a figura central de um romance policial à escala cósmica.
O «crime» nesta história? O brilho da estrela diminui, por vezes aparatosamente, a intervalos irregulares. Os suspeitos são vários, mas o «culpado» ainda não foi identificado. A investigação intensificou-se esta sexta-feira, durará todo o fim-de-semana e prosseguirá nas semanas que se seguem.
Os investigadores à procura de pistas para resolver o mistério da estrela KIC8462852 também usam lentes de detetive — estão montadas nos telescópios. Muitos andam a monitorizar a estrela, à espera que o evento se repita e os astrónomos o possam acompanhar em tempo real.
Esta sexta-feira foi o dia em que a estrela começou outra vez a perder o brilho. E perdeu intensidade de forma inesperada, como de costume. O alarme foi dado com a urgência de uma suricata que acabou de topar uma ave de rapina. E todos os astrónomos que acompanham este mistério de cinco anos foram a correr para os seus telescópios.
Saber ouvir quase que é responder
Gosto de imaginá-los a galgar as escadas como a Ellie Arroway do filme «Contacto», mas só os dedos dos astrónomos correram freneticamente pelos teclados. Fizeram-no com a intensidade de um Usain Bolt.
Assim que se soube da quebra da luminosidade da estrela, alguns notificaram os seus seguidores no Twitter com grande dramatismo. Um exemplo: «Alerta: a estrela está a diminuir de brilho. Isto não é um exercício!» — escreveu Jason Wright, professor de Astronomia e Astrofísica na Universidade de Penn.
A excitação justifica-se. O mistério à volta da estrela KIC 8462852 continua a ser um enorme pica-miolos para os astrónomos porque ninguém consegue chegar a uma conclusão definitiva sobre o que se anda a passar lá.
Uma análise aos dados históricos, feita por dois investigadores, Josh Simon e Ben Montet, indicou que a luminosidade da estrela, de forma inexplicável e surpreendente, diminuiu 14 por cento nos últimos cem anos. Porquê?
Uma enormidade. Uma aberração
Os dados mais recentes — recolhidos a partir de quatro anos de observações do telescópio espacial Keppler — são igualmente bizarros. A estrela diminuiu a sua luminosidade em cerca de 1 por cento nos primeiros três anos, dois por cento durante o quarto e absolutamente nada nos últimos seis meses.
Simon e Montet compararam também os dados com os de outras 500 estrelas observadas pelo Keppler. Um pequeno número apresenta diminuições graduais de luminosidade, mas nenhuma com perdas tão intensas como a misteriosa KIC 8462852.
Mais: registaram-se picos na quebra de luminosidade na ordem dos 22 por cento, o que é uma enormidade, uma aberração. Um planeta com o dobro do tamanho de Júpiter não obscureceria mais do que dois por cento do brilho.
Por que razão a estrela perde luminosidade de forma tão intensa e em períodos irregulares? Ninguém sabe. Tais variações podiam ser explicadas pela passagem de cometas ou planetas, mas perdas de longo prazo exigem outro tipo de explicação. Qual? Ninguém a tem.
Que «coisa» anda a passar diante da estrela?
Esperem lá! Falta o mordomo da história.
O cliché dos romances policiais determina que o culpado é sempre o mordomo. No caso de um mistério científico como este, o «culpado» costuma ser o extraterrestre.
A incapacidade de explicar o mistério levou muita gente a especular se os astrónomos, afinal, não tinham descoberto uma esfera de Dyson.
A esfera de Dyson é uma megaestrutura alienígena hipotética imaginada pelo físico e matemático inglês Freeman Dyson. Dyson considerou que uma civilização tecnologicamente muito mais avançada do que a nossa poderia construir enormes estruturas à volta de uma estrela, de modo a captar-lhe a energia. Se quiséssemos descobrir inteligências avançadas, propôs Dyson, deveríamos procurar evidências de que tais estruturas existem.
E se for uma estrutura dessas a bloquear a luz da estrela? Seria a maior descoberta científica da história da Humanidade.
Os astrónomos do SETI — acrónimo de Search for Extraterrestrial Intelligence — vasculharam a área com o sistema de radiotelescópios Allen Telescope Array. Tentaram escutar sinais da megaestrutura. Talvez fosse possível captar sinais de rádio.

Seth Shostak
Os radiotelescópios foram sintonizados para frequências entre os 1 e os 10 gigahertz. São «muito mais elevadas que as das nossas rádios ou televisores», escreveu então Seth Shostak, astrónomo do SETI, num artigo para o Huffington Post.
O SETI escolhe estas frequências porque são as melhores para comunicações interestelares. Em frequências mais baixas, a nossa galáxia emite prodigiosas quantidades de ondas de rádio. Estas ondas provocam um barulho de fundo ensurdecedor.
Com frequências mais altas, a atmosfera terrestre – e presumivelmente a de outros planetas como a Terra – absorve e emite frequências de rádio muito mais amplas. Disto resulta uma oportunidade – a «janela de micro-ondas», através da qual são possíveis comunicações rádio de longo alcance muito mais eficientes.
Estrela taralhoca, daqui é a Terra
Este não foi o único tipo de sinal que o SETI procurou. Os astrónomos também tentaram escutar feixes poderosos de bandas mais estreitas. Estes lembram apontadores laser: podem ser muito brilhantes apesar da pouca energia requerida, uma vez que é usada numa única cor específica.
Tais transmissões concentram toda a energia numa pequena parte do espectro rádio. É o tipo de transmissão, explicou Shostak, capaz de funcionar «melhor como um canal de saudação».
Que descobriram? Nada. Os astrónomos do SETI passaram duas semanas à pesca desses indícios de vida naquela ínfima parte do oceano cósmico. Nenhuma civilização foi apanhada na rede.
Não é caso para desistirmos. Afirmar que os ETs não existem porque não os encontrámos num raio de 1500 anos-luz é o mesmo que dizer que os peixes não existem porque não encontrámos nenhum dentro do balde de água que recolhemos à beira-mar.
Os próximos dias vão dizer-nos mais sobre a «coisa» que está a tapar a vista.
Astrónomos, toca a queimar as pestanas. Estamos todos à espera.
Porquê tanta pressa? Porque os astrónomos podem agora fazer uma análise espectroscópica da estrela. A análise poderá dizer-lhes de que material é feito «a coisa». Se os dados indicarem que se trata de material de origem tecnológica? Será fantástico! A perceção de nós mesmos e da nossa posição no Cosmos mudará para sempre.
E isto sou eu a mencionar apenas uma das consequências menos importantes da descoberta.